quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Crónicas e Poemas Desde Moçambique * Jonas Francisco Muchanga - Moçambique

Crónicas e Poemas Desde Moçambique
Jonas Francisco Muchanga
***
Crónicas
O Azar da Xitafa

Dona Zulmira, mulher linda que foi sequestrada a adolescência ainda antes de tabular. Aos 9 anos foi obrigada a se casar com o senhor Mudunguzi, curandeiro reconhecido na zona de Mambone, algures da província de Inhambane na zona Sul de Moçambique. Ti'manuel (tio Manuel), pai da Zulmira, celebrara um contrato diabólico com Mudunguzi, como forma de manter a idea de riqueza no seio da comunidade que o rodeava. Ti'manuel ostentava melhores carros da epoca e sua casa era a que mais marcava diferença naquela comunidade, mas poucos sabiam que nada daquilo pertencia lhe pertencia. Nas noites, o palácio servia para os que ninguém podia ver, e ti'manuel, com as suas duas esposas compartilhavam as duas palhotas que ladeavam a magnifica infraestrutura, contudo, as esposas tinham de servir tigelas de comida para deixar dentro do palácio. Ninguém sabia quem consumia aquele alimento servido nas noites, mas o certo é que no dia seguinte, as mulheres tinham de fazer limpeza no palácio e encontravam as tigelas vazias. As duas ficavam cepticas, mas foram orientadas a não questionar. Ti'manuel, por ser tão misterioso, não aceitava que familiares dormissem em sua casa, mesmo em dias de festas, fazia questão de fazer sacrificios para que pudesse usar os carros que aparentimente o perteciam, para poder levar os familiares as suas casas. Ti'manuel, preferia perder familiares do que acolhe-los pela noite. Isso mesmo, na conta de usar-se viaturas na posse dele, para levar os familiares ate as suas residências, tinha que prometer aos verdadeiros donos uma carne humana sem contar com o sacrificio anual que tinha de fazer. Tinhezana e Zembenhene, eram as duas esposas do ti'manuel, que fora serem companheiras, eram bancos de sacrificios. Tinhezana, teve 12 filhos, mas nenhum chegou a alcançar 6 anos. Todos perdiam a vida no mesmo mês e sem enfermarem. Eram mortes anfigúricas e enquanto outros julgavam que era fruto da sortilégio dos familiares e vizinhos, por inveja do ti'manuel pelo que era o único na familia e na zona com posses, outros suspeitavam mesmo que as mortes eram resultado dos sacrificios que este fazia para garantir suas riquezas. Alias, fala-se que ele é o mentor da demência do seu irmão Gonzito. Ti'manuel não ficava constrangido com as mortes misteriosas dos seus herdeiros e isso deixava preocupada as duas esposas, mesmo a Zimbenhane que nunca concebeu, não se alegrava com a morte dos filhos da rival. Pela decima terceira vez a Tinhezana engravidou, e ela tinha pouca esperança de ver o filho crescendo, somente a gravidez cumpria com todos estagios. Um dia, enquanto a Zimbenhane saia para comprar couve algures da sua zona, encontra-se com uma velha muito amiga da falecida mãe. - Ubelekile Zimbene, kulaveca utxula Zulmirane (engravidaste Zimbene, te convem dar nome da Zulmirane). - Mamã, xitafa, dizia a Zimbenhane com lágrimas no rosto. - Não chore filha, Deus vai estender a mão sobre esta gravidez, eu vejo uma menina nessa gravidez e ela é a tua mãe. Quando nascer, lhe dê o nome da Zulmira e lhe chame pelo nome Xitafa para afugentar o espirito da morte que existe na tua casa. Mas acima de tudo, khonguela nwlhananga ( reza filha). - Obrigado mãe, farei como disse.


Passado mais quatro meses, a Zimbenhane começou a sentir contrações, era o nono mês e a antagonista percebendo da situação, preparou-se para leva-la a maternidade. Zimbenhane não aguentava mais com as dores e ela dizia, não iremos chegar a hospital enquanto caminhavam ate a paragem, porém o marido viajara ate mambone para cuidar dos seus negócios enigmáticos. - Não aguento mais, dizia a Zimbenhane enquanto se estendia no chão para orar, tal como aconcelhará a avó Ronguene, amiga da sua falecida mãe. Apois terminar a oração, percebe a voz da vovó Ronguene numa das casas proximas, e enquanto a rival preocupava-se em pedir ajuda. - Mana, estou ouvindo a voz de alguém que pode nos ajudar, peço que chame pelo nome da avó Ronguene. - Quem é avó Ronguene? Onde está? Perguntava admirada a Tinhezana. - Faz isso, não há tempo para explicação, Deus existe, disse a Zimbenhane com um olhar de esperança. - Vovó Ronguene... Chamava a Tinhezana, sem ver onde estava a pessoa que chamava.


Nisso, a avó Ronguene, ouve a voz que a chama e sai da casa para perceber o que estava acontecendo...- minha filha, es tu minha filha Zimbe...mafiquile massicu (chegaram os dias). - Mamã, entra nesta casa e vá falar para a senhora que esta na cozinha preparar a sala para o parto, ordenava a avó Ronguene enquanto apoiava a Zimbenhane a levantar. - Ivafhi vanga cutissa lani ( são os defuntos que te enviaram aqui). Entraram na casa e ja estava preparada o lugar do parto e a avó Ronguene, seria a parteira, mas a Tinhezana, não estava fleumática, tal que a parteira lhe sossegou, será a vigésima terceira mulher a assistir o seu parto. Leva a bacia e prepara as capulanas.


- Seja forte minha filha, chegou a hora. A Zimbenhane gritava de dor e de repente uma nova voz estreava a sala a gritos. Com lágrimas, a avó Ronguene recebeu a criança e confirmou a sua profecia. - É a Zulmira, nasceu a minha amiga. Gloria a Deus.


- Xitafa, proferiu esse nome a mãe enquanto recebia a filha nos braços. A avó Ronguene, cuidou de tudo ate ela se sentir pronta para ir a casa dela.


Zimbenhane, ja se sentia pronta para ir a sua casa e agradeceu a avó Ronguene por tudo que fez por ela. E a avó Ronguene, lembrou-lhe sobre o combinado.


Uma semana depois voltou o ti'manuel e supreendeu-se com os gritos da criança. Foi logo a palhota, onde encontrava-se a Zimbenhane e a sua menina. Não lhe apeteceu pegar pelas mãos a criança, não demonstrou sinal de alegria e muito menos preocupou-se em saber qual era o sexo. - Quando nasceu a criança? Perguntava ele, reclamando de astenia e de fome.


- É uma menina e nasceu na quarta-feira. Não sei se fiz mal, mas lhe dei o nome da minha mãe.


- Para quê, criarmos mais sofrimento em dar nome de mortos a quem não vai viver? - Teus irmãos vão ver a mãe nela e quando ela morrer, imagina o sofrimento que terão?


- Para mim, tanto faz, Xitafa (vai morrer). Dizia o pai, pois sabia que ela era uma das garantias para o sacrificio que ia acontecer em Dezembro.


Esta bem, então permita-me que a chamemos desse nome aqui em casa, Xitafa. O marido concordou e dali, a criança era chamada de Xitafa.


Passaram seis meses e ja era Dezembro e o ti'manuel viajara para Mambone para oferecer o seu sacrificio. O nome da Zulmira, a idade e a foto foi entregue e o resto estaria na responsabilidade do temivel benzedeiro. - Ndzeni ka viki nita teca ( dentro da semana vou levar), disse o temivel curandeiro.


O ti'manuel procedeu com a viagem, ciente que dentro daquela semana a sua filha perderia a vida. Chegou o sábado e era o último dia da semana, nada acontecia com a criança. E ti'manuel, ciente de que era o último dia de vida da criança dormiu, e de madrugada ouve vozes gritando no palácio. Todo mundo acordou e a Xitafa estava febril e muito transpirava. Todo mundo entrou no palácio e ninguém acreditou no que viu, todas pessoas que perderam a vida por mesmos motivos, estavam naquele lugar. O Gonzito, era quem servia a comida aos defuntos, não era a toa que nas ruas, as vezes apontava as paredes e as bonecas dizendo " você come muito", " esta comida não vai caber para todos"... - Este banquete de hoje esta muito quente, desde quarta-feira não conseguimos tocar e não quer arrefecer. Hoje é último dia para atingirmos esta carne e so faltam poucos minutos, falavam famintas os defuntos. Ti'manuel, foi ate a palhota e de repente viu a mãe legítima da Zimbenhane. - Sogra, es tu sogra? Somente uma voz ele conseguia ouvir daquele defunto, "- a mim não tocas".


Zimbenhane, foi ao quarto e percebeu que a sua filha estava molhada, quente e tremendo, contudo, não chorava. Zimbenhane carregou a criança ate a casa da avó Ronguene, apesar de ser num tempo morto, algo dirigia a Zimbenhane.


Chegado na casa, encontrou a avó orando, Zimbenhane alinhou e também entrou em orações. As duas terminaram em simultâneo. Ficaram um tempinho em silêncio e de seguida e nas calmas a avó disse: - " eu sabia que vinham".


- Xitafa, não vai nos deixar, não se preocupe filha, Deus é mais forte em relação a todos. Disse a avó Ronguene, enquanto carregava a criança.


Ela começou a brincar e a mãe olhou para ela e disse, louvado seja Deus, Xitafa não vai morrer.


- Obrigado mãe, obrigado Deus por me enviar o teu anjo. Es o nosso anjo mãe Ronguene.


Volta para casa, e chegado lá durma. Esqueci tudo que aconteceu, pois dias piores viram, mas não te esqueça do combinado.


Felizes elas voltaram para casa e dia seguinte, ela recebeu noticia de que a avo Ronguene perdeu a vida.


Tudo ficou cajaceita compartilhar o lugar em alguém.


A Zimbenhane ficou intrigada com a morte do seu anjo...- nitassala na mani ( com quem ficarei), dizia ela em pranto.


No mesmo dia, foi ate a casa da falecida e ao chegar não conseguiu se conter, chorou tal como chorou no dia em que morreu a sua mãe.


No dia seguinte foram sepultar a velha Ronguene. E no seu velório o pastor, durante a pregação disparou da sua boca um conteúdo que atingiu a Zimbenhane. " Ninguém irá levar nada da terra para outra vida" pessoas se matam, fazem pacto com diabo so para poderem se sentir superiores aos outros, mas ninguém é superior a ninguém, todos somos os mesmos perante a Deus e a nossa diferença apenas reside nas escolhas. Ha quem escolhe seguir o caminho da salvação e ha quem escolhe o da perdição. Todos estamos aqui de passagem, cabe a cada um preparar o seu destino e um dia de maldade é uma eternidade de sofrimento, pois ninguém sabe da hora de partida." A pregação deixou a muitos em pranto, contudo tocou o coração de cada um e em especial da Zimbenhane que dali decidia mudar de vida e seguir o caminho divino.


Depois de todas cerimónias a Zimbenhane foi para sua casa e decidiu contar a boa nova ao seu marido. - Pai, precisamos buscar a Deus enquanto ainda existe tempo, cada oportunidade que temos de acordar é Deus que nos dá chance de repararmos nossos erros e nos juntarmos a ele.


- Zimbene, cada pessoa tem o seu Deus, tudo que temos aqui é graças ao meu Deus e aos meus sacrificios. Quanta gente vai a igreja e nada muda neles?


- Nós devemos procurar a nossa riqueza, devemos confiar nas nossas defesas. Não é a toa que ate hoje continuo vivendo. Ninguém é capaz de me tocar, nitsimbile nkata.


- Estou vendo que apostaste no curanderismo, mas essa vida eu não vou mais seguir. Com ou sem a sua permissão, irei buscar esse Deus invisivel mas com ações visiveis. Pode acreditar que se muitos não mudam, mesmo indo a igreja, é pela falta de fê e do conhecimento. Muitos estão preocupados em ver magias, em ver milagres em satisfazer o mundo. Os lideres relegiosos estam tambem escondendo a verdade e promovendo a cegueira. As igrejas estão perdendo o seu valor por querer adquirir valor. Alguns pastores fazem de crentes clientes e estes fogem da biblia e vão atrás de milagres armados em perdição. Eu vou seguir a biblia e vou me alimentar da palavra divina. Não vou correr por atrás de milagres e nem de prosperidade, pois o grande milagre adquirimos sem correr atrás (o acordar).


Ti'manuel ficou sem palavra e saiu de casa. - Vou dar umas voltinhas, voltarei um pouco mais tarde. Nisso Zimbenhane arrumava-se tambem para ir se apresentar numa igreja vizinha ( Igreja Evangelica Asemblia de Deus). Quando eram 18h ela saiu e despidiu-se da sua rival.


Ja na igreja, Zimbenhane foi orientada a sentar juntamente com outras senhoras da igreja. No final do culto o pregador chamou por pessoas que estavam pela primeira vez na igreja. Zimbenhane foi a única, sem contar com sua filha. As activistas acolheram-na e foi dada todos programas da igreja.


As 20 horas, Zimbenhane estava entrando em casa e o marido lhe esperava furioso.


- Onde estavas a essas horas? Queres meter azar aqui na nossa casa?


- Eu estava na igreja e não fui em sitios obscuros.


- Tu teras de escolher ou teu lar ou igreja. Porque mulher minha deve seguir minhas dotrinas.


- Nada me fará desistir da igreja. Eu preciso de Deus em minha vida e na minha familia.


- Fizeste a tua escolha, tu não fazes mais parte de mim. Pela nossa filha e pelos interresses que eu tenho com ela, podes continuar vivendo aqui.


- Esta bem. Farei como quiseres.


Na mesma noite Zimbenhane entrou em oração e dormiu tranquilamente. Ela dedicou-se de corpo e alma a Deus e a sua filha.


Ti'manuel foi visitar o seu curandeiro em Mambone para se negociar o sacrificio seguinte. Mas uma vez a Xitafa seria vitma do sacrificio.


Como sempre, o aliado do diabo garantiu que em menos de 24 horas o trabalho estaria consumado. O Ti'manuel abandonou o local e diferentimente das outras vezes, decidiu não voltar a casa naquele dia. Ficou uma semana fora de casa, acreditando que a Xitafa ja não podia mais lhe chamar de pai.


Xitafa, não morreu, o Deus da mãe era mais forte que qualquer outra coisa. Durante aquela semana, os fantasmas que esperavam se alimentar da pobre menina, não aguentaram a falta de sangue e abandonaram o palácio e foram se estalar em casa do curandeiro.


Na semana seguinte o Ti'manuel voltou a casa e desmaiou quando viu a Xitafa brincando alegre no quintal.


- Xitafa não morreu, disse o Ti'manuel quando a ex-esposa tentava o recuperar do desmaio.


Depois daquelas palavras um filme fluiu na mente da Zimbenhane, a Xitafa passou mal mais uma vez na semana passada e o mesmo barrulho no palácio se fez sentir. Foi algo propositado e creio que este senhor é o promotor. Esta casa tem mesmo espiritos da morte tal como disse a mãe Ronguene, falava sem voz a Zimbenhane.


De repente a garagem pegou fogo e so os carros queimaram e ficaram em cinzas. Ti'manuel ficou desisperado e percebeu que o seu mestre estava amuado.


- Para quê valeram meus filhos? Meu Ronger Rover nãoooo? Tanta pergunta fazia o Ti'manuel, mas mais furiosa ficava a Zimbenhane, pois as suas duvidas ganhavam satisfação. - Me casei com um demonio, disse ela enquanto abraçava a filha.


- Ninguém vai te fazer de alimento do diabo, ninguém. Disse em viva voz a Zimbenhane.


Nove anos passaram e o Ti'manuel perdeu tudo que tinha, o palácio pegou fogo, depois que a Tinhezana perdeu a vida vitma dos sacrificios do marido.


Ti'manuel sentou-se com a ex-esposa e revelou todos misterios, pediu perdão e jurou nunca mais fazer convênio com o diabo.


- Depois de tanto chorar a Zimbenhane movido pelo espirito santo concedeu perdão ao Ti'manuel e o pediu que se arrepende-se de verdade.


Ti'manuel prometeu mudar e reverter a situação, por isso prometeu ir romper o pacto com o curandeiro, tal que dia seguinte o fez.


O puçanguara decepcionou o Ti'manuel e o garantiu que o rompimento do pacto devia terminar com uma alma ou uma esposa que resulta do sangue dele, caso não ele morreria.


Ti'manuel pediu um tempo para pensar e o curandeiro so lhe concedeu um dia.


- So um dia? Perguntou espantado o Ti'manuel


- O amanhã não existe, é uma ilusão, todos temos o hoje e o agora, disse o xamã.


Ti'manuel voltou pensativo e chegado a casa a esposa lhe recebeu com amor e carinho. Este chorou amargamente nos braços da esposa e depois de estar calmo, contou o sucedido.


Segundo o que exigiu o curandeiro, o Ti'manuel perdia a vida ou Xitafa ficava esposa do curandeiro. Depois de tanto pensarem o Ti'manuel decidiu entregar a sua alma.


- Meu amor, desculpa por tudo que fiz e agradeço por ter me dado amor e carinho durante todo esse tempo. Mas se ha quem deve arcar as consequências sou eu. Cuide bem de te e da nossa menina.


- A morte não é uma escolha, tu não deves plantar dor a nossa filha e a mim, a Xitafa vai ficar esposa dele e nós oraremos por ela, para que nada de errado aconteça com ela.


A Zulmira foi entregue ao currandeiro e aos nove anos era esposa de um velho de 67 anos.


Aos 10 anos ja dormia na mesma cama com o marido e ela se sentia com o avó, tal como o chamava. Graças a Deus o curandeiro não abusava dela. Aos 15 anos, a Zulmira ja deixava babado os enteados que tinham idade superior a ela. Ninguém a via como madrasta e nem como rival,mas o raizeiro ja via nela a esposa e por conta disso se amaldiçoava por ver que a idade lhe roubava a inergia da bengala que estava sempre para baixo.


Mesmo assim, a Zulmira era tida como presa, pois esbanjava uma beleza de atrair mais clientes ao diabo.


Dona Zulmira, como era carinhosamente chamada, sentiu vontade de abandonar aquela casa, não conseguia se sentir esposa e muito queria continuar com os estudos.


O seu marido preferia perder tudo e menos a Zulmira, ela trazia luz para ele.


Os pais continuavam orando por ela, tal que no dia que ela completou 18anos as palhotas do benzilhão pegaram fogo e os defuntos que comunicavam-se com ele ordenavam que a Zulmira saísse daquele lugar, pois ela vestia fogo e esse fogo era cada vez mais forte.


Tal como ordenaram os defuntos. Zulmira volta a casa dos pais pura e com muita força para lutar.


Aos 26 anos, Zulmira é graduada como licenciada em contabilidade e auditoria e consegue um emprego com um bom salário. O pai é empossado pastor da igreja.


Como forma de agradecimento a Zulmira ergue o palácio e dá aos pais como presente. E aos 28anos casa com o lider da juventude na igreja, um enginheiro mecânico, trabador da LAM.


O casal decide comprar dois Ranger Rover aos pais. A familia Bemguezene chorou de emoção e agradeceu pela tamanha benção. Ti'manuel e a esposa dedicaram a sua vida a Deus e foram felizes para sempre.

A riqueza do homem reside no espirito. Por Jonas Francisco Muchanga

(In)dependência


O nascimento do homem, carrega consigo uma esperança. As vezes os pais da criança almejam ver no filho um homem bem-sucedido, contudo, outros olham para a criança como combate da pobreza, é por isso que as noites assistem pornografias. Ha quem diga que actualmente, não espera-se pela noite, há tanta liberdade que mesmo as praias, as ruas, as barracas, as casas abandonadas e mais lugares a deriva, ganharam a oportunidade de servir de campo para este esporte que so os quartos e as noites assistiam. Naqueles tempos, até os casais esperavam que o sono se apoderasse das crianças e ai começar a acção, mas hoje são as crianças que esperam a pequena oportunidade para usufruirem da dita independência. Elas ate falam de tecnicas sofisticadas de praticar esse esporte, em qualquer esquina, fazem maravilhas, tal como CR7 quando depara com a bola. Até certo tempo, nossos pais não tiveram essa chance, talvez seja por isso que muitos deles decidiram lutar para conquistar a independência.


Diz a história, que com a chegada dos homens do Vasco Da Gama, os donos da terra ficaram refens destes. Ninguém de pele negra dormia sossegado e Moçambique tornava-se paraíso para os brancos e inferno para os donos. Foi por isso que ao longo dos anos, em diferentes cantos do país foram surgindo movimentos nacionalistas, que tinham como objetivo, " libertar Moçambique ". Esses movimentos se uniram para formar a milagrosa Frente de Libertação de Moçambique ( FRELIMO).


Foram Dez anos de sangue, insônia, fome, mortes e mais, foram dez anos de sacrifícios. Nas matas, com armas na mão, ninguém sabia do seu destino, mas todos acreditavam que Moçambique podia sorrir. Em 1974, o colono se rendeu e eu digo, teria sido bom se isso tivesse acontecido exatamente em 1964, muitos mocambicanos teriam visto o crescimento do país, teriam criado seus filhos e formado familias. Mas foi luto que ergueu-se durante todo esse tempo, porém a causa foi justa, era suposto que Moçambique sorrisse.


Assim como os pais esperam ver os filhos prosperos, tal que sacrificam-se para pôr comida na mesa e investir na formação deles, assim esperam os pais da Independência, ver Moçambique próspero e independente no verdadeiro sentido.


Foram vidas investidas para um dia como 25 de Junho servir de dia de festa, de optimas e pesadas lembranças. Há quem diz ser dia da independência e afirma estar independente ate hoje. Mas era suposto que fosse mesmo dia da independência, ou talvez seja mesmo. Há muita liberdade para quase tudo, neste suposto país independente. São crianças usufruindo da liberdade sexual, abraçando as drogas e se engajando no mundo do crime. Esta independência nos permite fazer tudo, ate matar a luz do dia, desde que o famoso machel testemunhe a seu favor, contudo, existe aqueles que apesar de dormirem e respirarem o machel, matam sem necessidade de o ter como testemunha. São esses os donos da independência e que sentem ao pé da letra o seu significado.


Há quem sonhou com um Moçambique livre do colono, hoje a realidade lhe apresenta um colono com outra cor.


Que não sejemos cegos perante o que se fez durante 44 anos. Temos infraestruturas, analfabetos com nivel academico e depois da guerra civil, pelo desenvolvimento alcançamos a guerra civilizada. Entre irmãos matamo-nos e na calada da noite tomamos mesmos txilares e entre sorrisos, chamamo-nos amigos. Quanta irónia paira entre nós, ninguém mais pensa no outro.


Se os defuntos tem poder sobre os vivos, o que dizem aqueles que deram suas vidas pela independência?


Se nem aqueles que a vida lhes deu a chance de ver o Moçambique independente, não tiveram a chance de ter a sorte do chipande, talvez porque a história não lhes fez primeiros atiradores. Ontem lutaram para viver num Moçambique melhor e hoje lutam para sobreviver nesse Moçambique excelente para o outro e péssimo para o moçambicano. O que diz hoje o antigo combatente?


Nem todos falam a mesma lingua do chipande, mas todos combateram e venceram o mesmo inimigo. Todos tiraram este Moçambique da lama.


A independência ainda será ilusão, enquanto promover-se as drogas e esconder-se as bibliotecas. Enquanto olharmos para o europeu como nosso superior e o africano como aberração. A independência será ainda teoria enquanto a educação servir de fonte teorica para provar o outro atravez de números que a luta contra o analfabetismo é uma realidade.


Que haja hoje movimentos contra esse colono que esta espavorindo o futuro deste país. Que haja alunos indócis que não aceitam acatar essa materia sobre o acarinhar o medo. Que nos libertemos do medo rumo a uma independência real e desambiguada.


25 de Junho de 2019


Autor: Jonas Francisco Muchanga


&
Poemas
Pátria (a)mada

Entre o lixo e a estrada
assisto a fartura alheia na tela do quotidiano.
Zombam de mim as moscas
Com cães bandoleiros
Compartilho a mesa.

Não sei definir o meu amanhã
com um sorriso em torno dos meus lábios.
As noites viraram obstáculos
E o amanhecer não me dá mais prazer.

Se eu pudesse sonhar
Sonhava com pão digno tirado da padaria
Sonhava com um prato de comida servida da panela
Sonhava com um teto diferente do céu.

Todos são cegos perante minhas lágrimas
Somente os contentores de lixo me percebem
...as ruas me acolhem...
e as noites me esquecem.

Sou filho desta pátria
entregue as ruas
arancado a quietude
e amputado os sonhos.

Nas noites frias
procuro nas luzes da cidade pela pátria amada
e vejo irmãos armados em insipientes
Todos firmes na cegueira mental.
&
É natal ou dia da família

Natal para os cristãos
Que com as palmas das mãos
Com as maravilhas do corpo
E com o tremular do coração
Vão solenizar o nascimento do Cristo.
É natal...
Cristo nasceu no passado
E hoje é por cristãos lembrado
Com cânticos e louveres
É celebrado 
O magroépico e inolvidável nascimento.
Natal ou nascimento...
Que nasça nos corações o amor
Que se livremos do anojamento
Tiremos para fora de nós a dor
E nos abrecemos como teístas
A obra divina.
É natal...
Que nasça o espirito de ajuda
A sabedoria da busca das almas perdidas
A fé de vencer as causas esquicidas
E o dom de caminhar com ousadia
Na terra vestida de pecado.
É dia da familia
Que se unam as familias
Que encontrem o espaço para partilhar o amor
Que reflitem sobre o caminhar individual
E celebrem o dia
Com um olhar excepcional
No amanhã triunfal da familia.
Que não seja so dia do natal
Ou dia da familia
Que seja dia da concentração
E reflexão.
Que seja dia de amar e anestiar.
Pois é prostituido o amor.
Lembremos das almas
Sem Cristo...
Das crianças
Sem abrigo
E do mundo sem temor a Deus.
Lembremos do amor.
Reflitemos sobre o nosso caminhar
Analisemos o nosso falar
Ecoemos ao nosso passado
Brindemos o nosso presente vestido
Por ações de amor e fé em Deus
E confiemos o nosso amanhã a Deus.
&
Frangos de 50 meticais

Não são frangos de cinquenta meticais
São vidas humanas ceifadas naquelas matas
Fala-se de ausença de guerra
Esconde-se a realidade vivida naquele lugar
E mais sangue vai bebendo essa nossa dita terra gloriosa.

Gritam nhandayeyoo as crianças sem proteção
Apelam pelo socorro os jovens e velhos sem direção
E clamam por apoio os militares deixados a mercer da sorte.

Não são frangos de 50 meticais!
Nem filhos dos donos do país
São familiares do povo sem dono.
São portadores de dedos que garantem o pódio dos sicários
E negregados por homens da mesma raça.

Não são frangos de 50 meticais!
São irmãos tambem de raça negra
Padecentes de politicas corruptas
E mortos pela imperícia dos que devem lhes tutelar.

Há silêncio aqui.
Acampanhado de gongondzas e outras geladas
Mas há lagrimas em Cabo Delgado
Acompanhadas de sangue
E gritos sem fim.

Use tua arma sem balas
E aponte na testa da pessoa certa
Acerta e faz com que Moçambique volte a sorrir.

                    Somos um só Moçambique. Por Jonas Francisco Muchanga
&
Arrojado

Não sou ousado
Muito menos preparado para falar
Minha mente é que não quer calar
Não cala
E nem quer deixar de gritar.

Não sou ousado
Sou escravo da realidade
E não sei calar perante a verdade.

Outros se escondem em lamurios
Outros se afeiçoam ao medo
Mas no silêncio falam
Eles calam
Mas na mudez gritam.

Ninguem se atreve a dizer...
Mas eu me atrevo a escrever
Nos papeis, em linhas tortas vou descrever!
Vou descrever a dor desse povo quiescente.
Vou esquecer as minhas limitações
E vou me esconder
Nas marcas da verdade.

In campas da dor: Por Jonas Francisco Muchanga
&
O nosso calor

Chegaste bem frenética
Reclamaste que não te sentias amada
Querias carinho e mais alguma coisa.
Te sentí nervosa, vulcânica e decidida
Querias tudo e menos nada.
-"Quero que me ames"
Dizias desabutuando a tua blusa que deixava o teu decote a invadir
Os meus compartimentos de macho.
Deixamos os nossos compromissos a beira das nossas emoções
Magoamos outros corações
E comprazimos nossas emoções.
Quem alberga a culpa?
Se a felicidade nos abraçou durante os gemidos
Se cairam lágrimas entre nós!
Acompanhavam o momento do orgasmo que tanto esperavam os nossos corpos.
Dançaste no meu corpo, guiavas cada posição que chamava pelo clímax da nossa ação.
Ninguém era de ninguém
Mas nossos corpos acompanhavam nossas almas
Eles se assemelhavam ao verdadeiro sentido da felicidade
Ninguem podia imaginar que estivéssemos fazendo alguma maldade
Mas a verdade
É que estamos comprometidos com a felicidade.
Se alguma vez nossos corpos chamarem pelo prazer
Nossas almas vão correr ate esquina dos nossos gritos
E vão encontrar o poço do nosso calor.
O nosso calor.

             O ser esta sujeito a felicidade. Por Jonas Francisco Muchanga
&
Somente me ame

Não queira vasculhar o meu passado
Ele alberga momentos de luz e de decepções.
Não me questione sobre o antes
Discursemos sobre o depois
O depois pertence a nós dois
O antes foi esmigalhado pelo meu triste passado.
Não me obrigue a te abrir as páginas escritas por outros,
Não procure tambem informações de mim, nas bibliotecas orais,
Apenas me ame.
Olha para nós e veja o nosso primeiro dia.
Para te, eu não existia no passado e nesse presente
Me tenha como teu presente.
Meu passado é triste, tu não precisas saber dele.
Se eu te contar, vais te vestir dele
E vais despir tudo o que sentes por mim
E mais uma vez, vestirei o fardo da decepção.
No passado, andei em lugares longiquos
Abracei milhares de almas
Gritei de felicidade em poços de tristeza
Fui usada como um objeto sem valor.
Tu, não precisas saber de detalhes desse meu triste passado.
Pois, se eu for a ler
Algumas paginas te traram dor
Porque apostar nesse dessabor?
Apenas me ame.
Se teus olhos viram em mim uma experança
Seja firme!
Eu apenas tenho a dar o que ninguem nunca me deu!
Quero desta vez amar sem medo
Quiça te ter por inteiro.
Me ame
Sou uma donzela faminta de amor
Uma princesa que so carregou a dor.
E uma mulher preparada para amar e dar amor.

                In sicatrizes do amor: Por Jonas Francisco Muchanga

&
Foste Samora

Foste adiantado os dias
Pelo grito de ambição dos teus compatriotas
Lutaste pelo país
E não alcansaste o sabor da tua vitória
O calor do abraço do seu povo
Ficou para memória.

Apressuraram teus dias Samora
O teu assassino ate hoje comemora
Com taças armadas em viaturas prescindíveis,
Propriedades de valores imensuráveis
E com champanhe feito á lágrimas do povo.

Foste traído Samora
Hoje tua morte equivale a liberdade dos assassinos,
morte dos fieis ao povo
E liderança dos arquitectos
da sua partida para o além.

Ensinaste o povo a lutar
A combater o impugnador sem cessar
E com a sua partida
Foi alterado o teu ensinamento.
O povo é amestrado a viver o medo
O medo é sinônimo de vida 
Na tua pátria a(mada).

São calado os que gritam a verdade
Acarinhados os que traem a sua própria consciência
E apadrinhados os que viram a verdade sendo tapada
Pelos cargos e promoções no sector de trabalho.

Sonhaste com um povo livre Samora
Lutaste para o Moçambique melhor
E hoje o teu povo
Sobrevive no moçambique pior.
Seus objetivos
Foram alterados
Por um simples cargo de presidência.
E ficou para trás o sabor da independência.

            Em algures da vida, tudo paga-se. Por Jonas Francisco Muchanga

&
Povo em pranto

Ainda não basta?
Com o estrangeiro
Compartilharam os nossos recursos
Construiram impresas
E nos colocaram como vossos escravos.

Sou mão-de-obra barrata
Na minha terra rica.
Calço a dor de ser pai e mãe ou filho
Sempre que vou a estrada.

Fui amestrado a não ter escolha
Nem do que comer
E muito menos de onde viver.

Nossos dias são alagados de dor
Nossos sonhos quebrados pelo sistema
E o nosso amanhã entregue ao destino.
Ate onde vamos?

Quem será o Messias desse povo?
Se todos somos algemados as nossas mentes
Com politicas sem nexo.
                             In a dor do povo: Por Jonas Francisco Muchanga


DADOS DO AUTOR
Jonas Francisco Muchanga,
nascido aos 20 de Julho de 1991. Moçambicano, residente na Província de Maputo e Distrito da Matola. Licenciado em ensino de Matemática pela Universidade Pedagógica de Maputo. Autor de textos poéticos, crónicas e narrativas. Tem nenhuma obra publicada.
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